UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
MESTRADO EM EDUCAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Professora Drª Eliane de Alcântara Teixeira
José Cláudio Diniz Couto
2010
Pieter Brueghel, O Velho
Pieter Brueghel, pintor flamengo, nasceu por volta de 1527, morreu em 1569, conhecido como Brueghel, o Velho, para distingui-lo de seu filho, também pintor. Seus quadros de costumes, em sua maioria, buscam a vida quotidiana de sua época e, ao mesmo tempo, pretendem interpretar a realidade, algumas vezes com profundidade e outras de maneira anedótica, repletos de pequenos pormenores reais e oníricos. O conjunto de sua produção reflete de modo inevitável, as atribulações de uma época de confusão e de mudanças marcadas pelas guerras de religião. Como Brueghel tinha seu próprio estilo de pintura e não seguia modismos, suas obras nem sempre eram populares. Durante muitos anos as pessoas pensaram que ele era apenas um artista que adorava se divertir e queria fazer as pessoas rirem, por esse aspecto este artista contemplaria o Homo ludens de Johan Huizinga, que procurou demonstrar a presença de certa ludicidade no processo de criação e produção da obra de arte, questionando se o gozo estético do séc. XVIII teria a mesma intensidade de hoje, seria uma exaltação religiosa ou uma espécie de curiosidade cujo fim último teriam sido o divertimento e a distração (Huizinga, Johan, 1980, p 223 – 224).
Brueghel é Homo ludens e mythologicus, sua inspiração traz a Grécia Antiga para conviver em seu tempo. Em A Queda de Ícaro uma minúscula referencia dentro de um panorama renascentista representa o mito e todo o contexto onde pai incita o filho à prudência, a curiosidade juvenil de Ícaro oposta à experiência de um Dédalo maduro, e a ousadia de Ícaro como um dos aspectos da mente humana: arriscar e retrair frente aos impulsos curiosos. Nessa obra, Brueghel contextualiza o trabalho como força modificadora da natureza, coadjuvante da adaptação do homem antropocêntrico do renascimento ao meio, é a faceta do Homo faber do artista. Como também sua faceta de Homo economicus é nitidamente demonstrada quando denota toda a pujança econômica de seu tempo ao representar o ícone de riqueza da época: o navio mercante.
Pieter Brueghel em seu trabalho converge para a representação do homem desconstruído e reconstruído por Edgar Morin como um ser complexo que figura nas várias bandas espectrais do gênero Homo sapiens – ludens – economicus – faber – mythologicus. No ensaio “Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios” encontram-se às p. 91 e 92 a desconstrução desse ser humano, e a concepção de um ser mutilado, no qual o autor afirma que, como é de conhecimento de todos: o Homo sapiens é dotado de razão e - não sendo privilégio de ninguém - é um ser também delirante. Em diálogo com Castoriades - que adorava dizer que o homem é este animal louco, cuja loucura criou a razão - Morin conclui que Homo é sapiens e demens, e que não há uma fronteira nítida entre o delírio e a razão, corrobora esta conclusão lembrando a posição de Nietzche que dizia que entre estes extremos existe a genialidade. A partir daí Morin traça paralelos, primeiro afirma que o homem não é apenas faber, como também é ludens, estribando-se em Johan Huizinga, para quem o jogo não se resume àqueles das crianças, pois há toda uma gama de entretenimentos adultos, o sentimento lúdico nos acompanha por toda a vida e aqueles que não o têm, possuem uma vida inacreditavelmente triste. Em outro paralelo, Morin diz que homo não é apenas economicus como também o é mythologicus, dado que, conforme explica: vivemos de mitologia, sonhos e imaginário.
Edgar Morin conclui que este conjunto é a concepção complexa do ser humano. Sendo o ponto de vista do autor muito aquém e além do estudo da condição humana na religião dos conhecimentos e das disciplinas (Morin, 2005, p. 91-92). Neste caso as facetas de Brueghel expressas tão claramente em sua obra permitiriam, em conjunto, ao sujeito uma apreensão palatável de um objeto cuja visualização iluminaria um ser que busca a completude diante de seu caráter plurifacetado. Sujeito que encontraria em si as explicações que nem mesmo a clareza da ciência seria capaz de explicitá-lo.
Algumas Obras de Brueghel
A Queda de Ícaro
O mito é cíclico, enquanto o homem da renascença vê a coisas de forma organizadamente temporais.
Jogos Infantis
Crianças brincam retratando as coisas do tempo do momento presente
Caçada na Neve
O homem age tentando modificar a realidade
A Dança
Desejos antropocêntricos com fundo religioso
O Triunfo da Morte
Caminho para o barroco claro e escuro tonalizando o drama, o lado espiritual transparece
Provérbios Flamengos
A cegueira seria um sinônimo da ignorância
O Casamento Camponês:
Cena de uma festa onde se encontra de tudo menos os noivos
“Luta entre o Carnaval e a Quaresma”.
Dois momentos a alegria do carnaval e a preparação para a quaresma
Fontes:
Farting, Stephen, 501 Grandes Artistas, trad. Bras. 1ª Ed. Rio de Janeiro, Sextante, 2009, p.109
Bibliografia:
Huizinga, Johan, Homo Ludens: o jogo com elemento da cultura, trad. Bras., 2ª Ed. São Paulo, Perspectiva, 1980, p 223 – 224;
Morin, Edgar, Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios, trad. Bras., 3ª Ed. São Paulo. Cortez, 2005, p. 91-92
Sites:
www.passeiweb.com/saiba_mais/biografias/p/pieter_brueghel
http://mitologia.blogs.sapo.pt/54997.html
Pesquisa de imagens em Google: Pieter Brueghel obras imagens
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Cidadão Kane
Resenha
José Cláudio Diniz Couto
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação, Administração e Comunicação
Universidade São Marcos
E-mail: zecadiniz@hotmail.com
Filme: Cidadão Kane
Título Original: Citizen Kane Gênero: Drama Duração: 119 min. Ano: EUA - 1941 Distribuidora: RKO Radio Pictures Inc. Direção: Orson Welles Roteiro: Herman J. Mankiewicz e Orson Welles
Considerado por alguns como o melhor filme de todos os tempos, Cidadão Kane (RKO, 1941) conta a história do magnata da comunicação Charles Foster Kane, um americano, que consegue fama e dinheiro. O filme pode ter sido baseado na trajetória de vida do milionário Willian Randolph Hearst, apesar de Welles nunca ter confirmado.
O menino Kane tinha uma vida humilde, até sua mãe ganhar uma mina contendo ouro e mudanças importantes passarem a ocorrer, uma delas foi quando um banqueiro multimilionário assumiu sua educação. Uma lembrança residual irá acompanhá-lo pela vida chegando ao leito de morte, momento em que pronuncia a palavra rusebud. Este termo refere-se a um carrinho com o qual brincava na época em que saiu de casa para morar com o banqueiro. Mais tarde ao herdar ações, imóveis e outros bens; entre eles, um jornal falido: The Inquirer que reformulou contratando os principais jornalistas, a ponto de torná-lo influente e, de certa forma, sensacionalista. O sucesso do jornal deu à Kane notoriedade nacional, com isso passou a gozar de grande prestigio, inclusive entre as camadas mais populares.
Kane candidatou-se ao Governo do Estado de Nova York, mas perdeu devido ao escândalo amoroso, delatado pelo concorrente: o “caso” de Kane com Susan Alexander, que viria a ser sua segunda esposa – a primeira havia sido a sobrinha do presidente dos EUA, Emily Norton.
Com o passar dos anos Kane torna-se cada vez hostil e solitário. Construiu e viveu em um palácio, praticamente um museu com coleções de obras de arte caríssimas como esculturas pinturas. Ele vai entrando em depressão e no final sua mulher, Susan, cansada, resolve abandoná-lo.
No leito de morte Charles Foster Kane pronuncia a palavra rusebud, deixando as outras personagens intrigadas - nunca irão desvendar o mistério da derradeira palavra de Kane. Welles revela somente aos expectadores e assim mesmo no final da trama, quando os pertences de Kane são queimados, entre eles um carrinho com o nome estampado RUSEBUD –
No filme não há linearidade, a morte de Kane ocorre já nas primeiras cenas, a partir daí o termo rusebud e as buscas de seu significado dão à trama o tom instigante que somente Orson Welles para conseguir. O significado da palavra só ocorrerá a partir de profunda meditação, após o filme, por parte do expectador a respeito dos diversos aspectos do filme: A emoção conferida pelo brinquedo seria o portal de entrada de Kane para o calor da atmosfera da infância distante e quente, repleta de afeto simples, quase uterino. Muitos de nós experimentamos em meio às atribulações a busca de um refugio intocado pleno de sensações puras. Pureza que serviria de alento à personagem poderosa que transita em um mundo de ética própria; dotado de relacionamentos intrincados onde reinam maldade, mesquinhez e vingança. Rusebud seria a parte humana de Kane, e de muitos outros da vida real do tempo de Welles e dos nossos tempos. Se no passado Hearst poderia ter servido de inspiração para o filme. Na hipótese do autor ter sido brasileiro, Châteaubriant da mesma época teria servido de modelo. Se Welles estivesse produzindo hoje, Marinho seria uma fonte de inspiração.
Todos nós, bons ou não, tivemos uma infância, cuja lembrança ou o apego a um de seus aspectos, muitas vezes, remetem-nos a um traço de humanidade, um alento diante de tantas atribulações. Na trama, rusebud será, talvez, um tênue traço de decência que ligará a personagem, de sua atmosfera artificial -ligada ao poder- à sua intocada humanidade.
A pronúncia do termo rusebud por Kane em seu leito de morte talvez remeta algum expectador à questão da transitoriedade da vida e sua relação com a impotência
do homem versos a letalidade do poder da morte, um mistér somente divino. A morte igualará a todos nós, sem se importar com o significado de nossas relações. Se de um lado, ao lembrar-se do brinquedo de sua infância Kane teve sua dor atenuada no momento extremo de sua morte, do outro, o diálogo do poder homem com o poder da morte é sempre desigual. Precisamente neste momento a personagem viu seu poderio subjugado por um fator que afeta e iguala a todos. Resumiu-se Kane então às fimbrias de sua infância, quando não tinha poder, somente sonhos: dos cacos de vida de que se valeu - dentre tantos outros valores colecionados durante sua vida de fausto – escolheu aquilo que parece ser o mais singelo: um brinquedo, entretanto uma forte representação da pureza de sua essência
José Cláudio Diniz Couto
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação, Administração e Comunicação
Universidade São Marcos
E-mail: zecadiniz@hotmail.com
Filme: Cidadão Kane
Título Original: Citizen Kane Gênero: Drama Duração: 119 min. Ano: EUA - 1941 Distribuidora: RKO Radio Pictures Inc. Direção: Orson Welles Roteiro: Herman J. Mankiewicz e Orson Welles
Considerado por alguns como o melhor filme de todos os tempos, Cidadão Kane (RKO, 1941) conta a história do magnata da comunicação Charles Foster Kane, um americano, que consegue fama e dinheiro. O filme pode ter sido baseado na trajetória de vida do milionário Willian Randolph Hearst, apesar de Welles nunca ter confirmado.
O menino Kane tinha uma vida humilde, até sua mãe ganhar uma mina contendo ouro e mudanças importantes passarem a ocorrer, uma delas foi quando um banqueiro multimilionário assumiu sua educação. Uma lembrança residual irá acompanhá-lo pela vida chegando ao leito de morte, momento em que pronuncia a palavra rusebud. Este termo refere-se a um carrinho com o qual brincava na época em que saiu de casa para morar com o banqueiro. Mais tarde ao herdar ações, imóveis e outros bens; entre eles, um jornal falido: The Inquirer que reformulou contratando os principais jornalistas, a ponto de torná-lo influente e, de certa forma, sensacionalista. O sucesso do jornal deu à Kane notoriedade nacional, com isso passou a gozar de grande prestigio, inclusive entre as camadas mais populares.
Kane candidatou-se ao Governo do Estado de Nova York, mas perdeu devido ao escândalo amoroso, delatado pelo concorrente: o “caso” de Kane com Susan Alexander, que viria a ser sua segunda esposa – a primeira havia sido a sobrinha do presidente dos EUA, Emily Norton.
Com o passar dos anos Kane torna-se cada vez hostil e solitário. Construiu e viveu em um palácio, praticamente um museu com coleções de obras de arte caríssimas como esculturas pinturas. Ele vai entrando em depressão e no final sua mulher, Susan, cansada, resolve abandoná-lo.
No leito de morte Charles Foster Kane pronuncia a palavra rusebud, deixando as outras personagens intrigadas - nunca irão desvendar o mistério da derradeira palavra de Kane. Welles revela somente aos expectadores e assim mesmo no final da trama, quando os pertences de Kane são queimados, entre eles um carrinho com o nome estampado RUSEBUD –
No filme não há linearidade, a morte de Kane ocorre já nas primeiras cenas, a partir daí o termo rusebud e as buscas de seu significado dão à trama o tom instigante que somente Orson Welles para conseguir. O significado da palavra só ocorrerá a partir de profunda meditação, após o filme, por parte do expectador a respeito dos diversos aspectos do filme: A emoção conferida pelo brinquedo seria o portal de entrada de Kane para o calor da atmosfera da infância distante e quente, repleta de afeto simples, quase uterino. Muitos de nós experimentamos em meio às atribulações a busca de um refugio intocado pleno de sensações puras. Pureza que serviria de alento à personagem poderosa que transita em um mundo de ética própria; dotado de relacionamentos intrincados onde reinam maldade, mesquinhez e vingança. Rusebud seria a parte humana de Kane, e de muitos outros da vida real do tempo de Welles e dos nossos tempos. Se no passado Hearst poderia ter servido de inspiração para o filme. Na hipótese do autor ter sido brasileiro, Châteaubriant da mesma época teria servido de modelo. Se Welles estivesse produzindo hoje, Marinho seria uma fonte de inspiração.
Todos nós, bons ou não, tivemos uma infância, cuja lembrança ou o apego a um de seus aspectos, muitas vezes, remetem-nos a um traço de humanidade, um alento diante de tantas atribulações. Na trama, rusebud será, talvez, um tênue traço de decência que ligará a personagem, de sua atmosfera artificial -ligada ao poder- à sua intocada humanidade.
A pronúncia do termo rusebud por Kane em seu leito de morte talvez remeta algum expectador à questão da transitoriedade da vida e sua relação com a impotência
do homem versos a letalidade do poder da morte, um mistér somente divino. A morte igualará a todos nós, sem se importar com o significado de nossas relações. Se de um lado, ao lembrar-se do brinquedo de sua infância Kane teve sua dor atenuada no momento extremo de sua morte, do outro, o diálogo do poder homem com o poder da morte é sempre desigual. Precisamente neste momento a personagem viu seu poderio subjugado por um fator que afeta e iguala a todos. Resumiu-se Kane então às fimbrias de sua infância, quando não tinha poder, somente sonhos: dos cacos de vida de que se valeu - dentre tantos outros valores colecionados durante sua vida de fausto – escolheu aquilo que parece ser o mais singelo: um brinquedo, entretanto uma forte representação da pureza de sua essência
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